Este artigo foi publicado originalmente pela revista Metropolis sob o título "Good-bye Grand Structures: The Small-Scale Civic Architecture of Today."
A prefeitura de minha cidade atual, Scottsdale, Arizona, não dá nenhuma dica de qualquer tipo de função cívica se analisada a partir da avenida em que está inserida. Você acessa o edifício a partir do estacionamento em volta. A única razão pela qual eu estive lá foi como parte de uma equipe em um processo de seleção. Minhas outras negociações com o governo têm sido online, via e-mail ou através de localidades suburbanas, onde eu tenho ido para lidar com assuntos como testes de poluição atmosférica. Eu voto pelo correio.
O grande impulso local, estadual e federal é fazer com que tudo aconteça online, fazendo com que as atividades permaneçam tão mínimas e anônimas quanto for possível. As operações reais do governo há muito tempo têm estado nos bastidores, onde políticos e burocratas fazem o trabalho real. No entanto, essas atividades frequentemente acontecem dentro de grandes estruturas que nos dão um sentido de identidade e orgulho do nosso governo, servindo também como locais abertos, onde poderíamos encontrar nossos agentes cívicos. Como resultado, nós vivemos com uma herança de monumentos cívicos que proclamam nosso investimento na deliberação e democracia, mas nós construímos muito pouco estruturas como estas hoje em dia. Em vez disso, nós estamos buscando nos livrar de quaisquer relíquia de uma tal história da arquitetura cívica - o governador de Illinois gostaria de vender o James R. Thompson Center, projetado por Helmut Jahn, em 1982-85, e só a especificidade dos edifícios clássicos grandes que antecedem aquele monumento pós-moderno impede que outros políticos tentem o mesmo. Prédios públicos custam dinheiro tanto para a construção quanto para a manutenção, e seus espaços formais encontram-se vazios a maior parte do tempo.
O mesmo acontece com os serviços governamentais. As estações de correios estão fechando a um ritmo rápido, como as escolas em cidades do interior. As estações de trem, que agora são servidas por linhas semi-governamentais Amtrak, são frequentemente lançadas ao lado dos edifícios construídos durante o auge desse tipo de viagem. Se você está procurando a representação física que nos une, seja como uma herança ou um ideal, seja como serviços ou nos cuidados, você terá que procurar muito.
Mesmo as nossas estruturas grandiosas, pontes, barragens, estradas e outros componentes de transporte e infra-estrutura que, literalmente, nos unem, são agora objetos de reconstrução e reparação, e não de construções inovadoras. Estamos muito atrás na manutenção de nossas redes rodoviárias e hídricas, e isso deve ser prioridade. Quando construímos algo novo e em grande escala, muitas vezes é terrivelmente ruim ou chato, para não mencionar edificações absurdamente caras, tais como a nova substituição da Bay Bridge, em San Francisco ou a Ponte Memorial Bunker Hill, em Boston. Grande parte do trabalho também continua onde não podemos vê-lo, seja no novo túnel de água e metrôs construídos sob Manhattan, seja o Big Dig e a substituição do Alaskan Way Viaduct em Seattle.
Recentemente, o Departamento de Estado tem procurando melhorar as maneiras pelas quais o EUA apresenta-se ao resto do mundo. Sob a liderança do arquiteto Casey Jones, há um esforço para mascarar as exigências de segurança intensas em toda a estrutura externa com boa arquitetura. Eu estava no comitê de revisão do projeto para a embaixada que estamos construindo na Cidade do México, um projeto por Tod Williams Billie Tsien Architects, e eu vi o quão difícil é fazer com que tais estruturas pareçam algo diferente de fortalezas que contêm centros de processamento de milhares de vistos por dia. Agora este programa está sob ataque de congressistas republicanos que não vêem nada, somente lixo e vulnerabilidade.
Se houver esperança, é em pequenas estruturas. Nessa mesma Scottsdale, onde não há um coração cívico, foi encomendada uma série de bibliotecas públicas, cada uma nomeada com uma raça diferente de cavalo. Nosso bairro tem a Arabian (2007), projetada pelo escritório local Richärd + Bauer. Uma cobra de aço corten desenhada com um pátio oculto feito de paredes inclinadas avermelhadas com lofts onde os livros e mesas repousam sob a luz suave de claraboias. Um centro fitness nas proximidades, desenhado por Weddle Gilmore Black Rock Studio que terminou no mesmo ano, demostra a grandeza estética da biblioteca.
As bibliotecas parecem ter criado uma área onde há investimento não somente na arquitetura cívica, mas também na experimentação. As duas bibliotecas de David Adjaye em Washington, DC, permanecem como exemplos de boa arquitetura, e você pode encontrar outros exemplos de arquitetos menos conhecidos em todo o país. Elas são, muitas vezes, uma oportunidade para as empresas locais fazerem um projeto em uma arena cívica.
Nova York, sob o ex-prefeito Michael Bloomberg, embarcou em um programa de novas bibliotecas, postos policiais e outras melhorias (o depósito de sal no lado oeste de Manhattan, projetado por Richard Dattner, recebeu uma grande dose de atenção), e nós só podemos esperar que esta benção da boa arquitetura continue pelo atual prefeito, menos visionário.
A similaridade entre todos estes projetos é que eles são relativamente pequenos e possuem funções muito específicas. O contraste do sucesso do depósito de sal com o centro de trânsito, de $3.9 bilhões, feito por Santiago Calatrava, finalmente, terminando no Ground Zero, enfatiza o sucesso da modéstia em oposição aos tipos de estruturas grandes que se tornam ímãs para os críticos do governo.
Eu diria que é assim que deveria ser, e devemos concentrar a nossa atenção nos elementos e serviços que o governo prevê, de modo que o dinheiro seja investido com sabedoria e só quando e onde for necessário. Isso não quer dizer que a arquitetura resultante deve ser barata e banal. O que devemos resgatar naquela pequena escala é exatamente o que nos atrai para fora do cotidiano, longe do que nos separa, e em direção a um propósito comum, um lugar e sentido de comunidade.
Também devemos compreender que o espaço cívico pode ser incorporado tanto em edifícios existentes quanto em complexos maiores que servem para outras funções. Temos uma longa história de uso de escolas para votação e centros comerciais como locais para determinados serviços, mas agora temos que perceber essas oportunidades e usá-las para chamar a atenção e enobrecer - eu não tenho vergonha de usar essa palavra - a arquitetura cívica.
Em Sacramento, um empreendedor particular que criou um novo bairro residencial em frente ao rio, no centro, encomendou ao arquiteto paisagista Jerry van Eyck o projeto de um celeiro, uma estrutura de eventos em forma toroide que não tem nenhuma função particular, mas serve para concentrar a comunidade nascente e fornecer espaço para festas ou concertos, ou apenas sombra. Seu promotor, o diretor de projeto da Fulcrum Property, Stephen Jaycox, o vê como um protótipo para estruturas feitas em bairros menores que tem a mesma utilidade de estádios e museus em uma escala cívica.
Em um sentido ainda mais comercial, a Apple trabalha duro para que suas lojas tenham um apelo que vai além, mas em última análise, aprimora os produtos que vende (veja a nova sede da empresa em San Francisco). Se ela pode fazê-lo mesmo em shoppings, por que as cidades não são capazes de fazer o mesmo? As pessoas se reúnem e permanecem em lugares como hospitais e clínicas, que são espaços sombrios; não poderíamos melhorá-los com lugares de orgulho e esperança?
Sei que parece ser um pensamento muito otimista. Não há razão para as entidades civis investirem em bons lugares, porque eles não farão políticos reeleitos ou burocratas promovidos. Nós precisamos ser ainda mais táticos. Talvez a arquitetura cívica pode ser temporária. Cabines de informação eleitoral ou tendas onde proposições de candidatos podem ser discutidas, parecem ser uma boa opção. O teórico cultural alemão, Peter Sloterdijk, propôs cúpulas para melhorar a democracia, e talvez isso é algo que poderia ser utilizado neste país também. No Reino Unido, a equipe multidisciplinar Assemble ganhou o Prêmio Turner no ano passado, pelo menos em parte, por seus teatros temporários e espaços para eventos, que muitas vezes constrói com os vizinhos e a partir do material que já existe no site. Há "parklets" em muitas cidades agora. Por que não transformá-los em instalações temporárias sancionadas?
Já fazemos isso encorajando vários tipos de feiras e mercados em espaços públicos. A prefeitura de Scottsdale tem um mercado regular, e em todo o país, estamos vendo um renascimento de tais lugares utilizados uma vez por semana, onde as pessoas se reúnem, atraídas pela boa produção, e não tanto pelo entretenimento e, talvez, engajamento social. Por que não formalizar esses encontros, adicionando elementos políticos? Se o Festival de Música e Arte Coachella Valley pode encomendar os estruturas temporárias de Jimenez Lai, por que as cidades não podem?
O que nos leva, finalmente, a uma parte da nossa infraestrutura cívica que está melhorando em quase toda parte: o espaço público. Com nosso trabalho e as atividades online agora, o desejo de experimentar lugares reais, sejam eles parques ou praças, com pessoas reais, está aumentando. Ciclovias e programas de compartilhamento de bicicletas abrem as cidades para um uso que é mais social e experimental do que o que temos quando nos fechamos em nossos carros. As redes sociais tornam mais fácil encontrar um ao outro por qualquer motivo, seja música, sexo ou protesto, e, assim, multidões podem se formar em um instante. Podemos ter mais do que performances flash-mob, mas a ideia irá reaparecer de alguma forma. Por meio de parcerias público-privadas, a maioria das cidades tem alavancado o investimento de varejistas e proprietários de restaurantes, que se beneficiam do espaço público animado, para atualizar nossas ruas e praças nos distritos de melhoria de negócios. Mesmo em subúrbios, os shopping centers estão se voltando ao ar livre, misturando espaços públicos e privados.
A questão é como ativar todos estes pequenos momentos de esperança. Eu diria que é uma tarefa para arquitetos e escolas de arquitetura desenvolver formas cívicas que fazem uso dos serviços públicos e reuniões, em seguida, levá-los a um estado onde eles nos possam fazer conscientes de onde e quem somos. A arquitetura clássica, com suas colunas e cúpulas, fez isso uma vez. Precisamos de uma nova versão de um processo de tomada pública de forma coletiva que é mais aberta, mais ressonante com culturas diferentes, e mais barata de fazer, e pode até mesmo reutilizar estruturas e materiais existentes.
Tudo o que fazemos, não devemos aspirar novas estruturas grandes como as nossas próprias prefeituras e assembleias legislativas. Devemos sim, utilizar o que temos e imbuir-lo com qualidades cívicas. Devemos abrir nossos edifícios de escritórios e centros comerciais, que se tornarão redundantes já que trabalhamos e compramos cada vez de forma online, para usos coletivos, e torná-los novos pontos focais.
Por tudo isso, não sentirei saudades da Represa Hoover e das assembleias legislativas que construímos. Eu sonho que um dia possamos, mais uma vez, acreditar em nosso destino coletivo e na importância de deliberar o futuro da arquitetura cívica. Até então, teremos que nos consolar com o pequeno, o temporário, o vibrante e o estranho, ou seja, qualquer forma que possa nos unir.